No anoitecer da última segunda-feira (5/5), Tatuí se despediu com pesar de uma de suas figuras mais emblemáticas da cultura local: José Coelho de Almeida, carinhosamente conhecido como Maestro Coelho. Educador, músico e referência incontestável na formação artística de gerações, Maestro Coelho deixa um legado inesquecível para a Capital da Música.
Considerando sua destacada trajetória, sua importante contribuição à música da cidade, a formação de músicos e bandas e o reconhecimento nacional de seu trabalho, o prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior, decretou luto oficial de 3 dias, a contar a partir desta terça-feira (6/5).
Durante o período de luto oficial, as bandeiras do município serão erguidas a meio-mastro em todos os edifícios públicos, em sinal de respeito e tristeza pela partida de um ente tão querido.
O velório do Maestro Coelho será realizado nesta quarta-feira (7/5), a partir das 10h, na Paróquia Sagrada Família (Av. Cônego João Clímaco, nº 115).
Tatuí se despede com profundo respeito, gratidão e emoção de um de seus maiores mestres. Maestro Coelho não deixa apenas notas e partituras, mas uma herança viva de dedicação à arte, à educação e à sensibilidade humana.
SOBRE JOSÉ COELHO DE ALMEIDA – PROFESSOR “MAESTRO COELHO”
Nasceu em Tatuí em 13 de janeiro de 1935. Casado com Nilda Fonseca Coelho de Almeida Pai do oboísta Carlos Eduardo Fonseca Coelho, flautista Tadeu Coelho (José Coelho de Almeida Júnior), do fagotista Benjamin Antônio Coelho Neto e clarinetista e saxofonista Luiz Fernando Fonseca Coelho.
Pedagogo Musical, Administrador escolar, Cultural, Flautista, Regente e vigésimo segundo Mestre de Banda da História de Tatuí. Em 1948, iniciou seus estudos musicais na Escola Estadual “‘Barão do Suruí” com o professor Nacif Farah e em janeiro de 1951, ganha sua flauta e inicia seu estudo de flauta com Eulico Mascarenhas de Queiroz e João Baptista Del Fiol.
Com a inauguração do Conservatório de Tatuí em 1954, ingressou na instituição formando-se em flauta na classe do professor e maestro Spartaco Rossi, no ano de 1957.
A partir de 1955, foi flautista da Orquestra da Associação Cultural “Pró-Música” de Tatuí, sob regência do maestro Spartaco Rossi.
Teve a oportunidade de reger a tradicional Banda Santa Cruz, segundo registros históricos considerada uma das mais antigas do país,
José Coelho de Almeida foi vereador por dois mandatos na cidade (3º Legislatura 1956-1959 e 4º Legislatura 1960-1963), e músico de intensa conexão com a comunidade tatuiana.
No início dos anos 60, a pedido do vereador Lucas Pelagalli, chefe do setor de manutenção da Fábrica de Fiação e Tecelagem São Martinho, que, em nome de um de seus proprietários, João Chammas, organizou uma banda de música, para os filhos dos operários daquela indústria.
No campo da formação de prática coletiva de sopros e percussão, foi o pioneiro no Brasil, organizando em 1962 a Corporação Musical “São Jorge” de Tatuí (de 1962 a 1967). Por meio de uma exposição realizada na vitrine da Loja “Casa dos Presentes” atraiu centenas de pessoas curiosas em conhecer os instrumentos de uma banda que haviam sido adquiridas para a formação da banda. Assim nasce, a Corporação Musical “São Jorge” que realizou seu primeiro concerto público, no dia 20 de janeiro de 1963, no palco do Cine Teatro São Martinho, de Tatuí, para uma plateia lotada que os aplaudia entusiasticamente. A frente Corporação o maestro Coelho realizou mais de 150 apresentações públicas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, e que atendia filhos de funcionários da indústria Têxtil São Martinho.
Segundo o maestro a corporação foi um sucesso pois “(…) industriais, empresários em geral, são pessoas extremamente intuitivas e práticas; quando analisam um projeto da área cultural que se lhes é apresentado, imediatamente conseguem filtrar o que lhes interessa”.Em 1967, por ocasião das Festas Juninas, como Maestro da Corporação São Jorge, realizou um arranjo exclusivo para a festividade tendo como foco a música “Cai Cai Balão”.
Mestre de Banda da Corporação Musical São Jorge, marcou época com a famosa “Velha Guarda imortal” composta pelo Maestro Spartaco Rossi a pedido da família Chammas, para o gênero Seresta. Mas, o sucesso da Corporação ocorreu quando num dos intervalos dos primeiros Festivais de Seresta de Tatuí, o maestro Coelho, executou “São Paulo Antigo” com músicas do cancioneiro popular.
Em maio de 1968, o professor de flauta e regente José Coelho de Almeida assume a direção do Conservatório Dramático e Musical ‘Dr. Carlos de Campos’ de Tatuí dedicando seu empenho em fazer com que a Instituição atingisse o lugar merecido no contexto artístico musical do estado de São Paulo, visto que, como era de notório conhecimento, o Governador Abreu Sodré (1967/1971) quase havia fechada a Instituição.
Em sua gestão, conseguiu convencer a classe política local a ceder, em comodato para o Estado de São Paulo, o prédio onde funcionava a Câmara e a Biblioteca Municipal, cedido ao Conservatório de Tatuí em seu atual endereço – rua São Bento, n° 415, para que a escola tivesse melhores acomodações, fato consolidado no dia 24 de abril de 1969. Com o novo prédio, a instituição dobra o número de alunos, passando de 250 alunos para 600 alunos.
No ano 70, é iniciada a construção do auditório da Escola, atualmente Teatro Procópio Ferreira, com o apoio do Secretário da Cultura, Esporte e Turismo, Orlando Gabriel Zancaner e do prefeito de Tatuí, engenheiro Orlando Lisboa de Almeida.
Em 1971, realizou a unificação do conteúdo programático das áreas de cordas e piano, de maneira que pudesse ser ampliado de forma mais objetiva e eficaz. Replicando os moldes curriculares da Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil (piano) e no Conservatório Municipal de São Paulo (cordas).
Em 1976, institui o curso de artes cênicas no Conservatório de Tatuí e em 1977, realiza o “Festival Estudantil de Teatro Amador” com o intuito de incentivar a atividade teatral entre os estudantes da cidade e atrair alunos para o curso. Tornando-se conhecido e reconhecido nacionalmente, firmando-se como um setor que oferece atividades cênicas em diferentes níveis. O FETESP – Festival Estudantil de Teatro do Estado de São Paulo, que nasceu como “Festival Estudantil de Teatro Amador” foi oficializado por decreto estadual de número 18.434/82 em 15 de fevereiro de 1982
Foi em sua gestão, mais precisamente no ano de 1976, que o Conservatório recebe o título de “maior escola de música da América Latina”. Neste mesmo ano a Instituição ganha uma importante contribuição do empresário José Mindlin, que doa uma enorme quantidade de instrumentos para a escola. Outra importante doação ocorre em 1981, quando o empresário Wanderley Bocchi cede um extenso terreno onde hoje está construído o alojamento da escola.
Quando José Coelho de Almeida deixou o cargo em 1983, deixou um legado importantíssimo para a história da Música tatuiana e do Conservatório de Tatuí como descreveu o maestro João Carlos Martins em maio de 2019, no Salão Villa Lobos da Instituição: “O Conservatório viveu bons e maus momentos em sua história. Dois momentos foram bastante positivos vivenciados pela direção dos maestros Coelho e do Neves”. Diante do exposto, vale ressaltar que em sua gestão introduziu os mais modernos métodos de trabalho, tanto no setor administrativo como no didático, modernizando completamente a parte pedagógica da Instituição. Idealizou, criou e dirigiu a Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí.
De 1973 a 1978, foi também assistente do maestro Eleazar de Carvalho no departamento de prática de orquestra do Centro de Cultura Musical. Foi professor de regência de banda nos Festivais de Inverno de Campos do Jordão de 1979 e 1980 e coordenador pedagógico em 1981 e 1982, introduzindo a Banda sinfônica e possibilitando o atendimento de maior número de bolsistas.
Em 1979, a Folha de São Paulo noticiou: “a coordenação de todo o trabalho com as bandas e maestros será feita por José Coelho de Almeida, da Escola de Tatuí, e do major Rubens Leonelli, da Banda da Polícia Militar” e acentuou: “Do total de trezentas bolsas, 84 seriam destinadas a instrumentistas de violino, viola, violoncelo e contrabaixo. A razão desta ênfase é justificada pelo professor José Coelho de Almeida, um dos coordenadores do evento, pela carência deste tipo de instrumentistas nas orquestras brasileiras”.
De 1983 a 1987, prestou serviços de assessoria técnico-administrativa aos Departamentos de Artes e Ciências Humanas e Museus e Arquivos da Secretaria de Estado da Cultura do Estado de São Paulo.
De 1987 a 1991, trabalhou no Departamento de Música do instituto de Artes da Universidade de Campinas (Unicamp), na organização e implantação de uma banda musical comunitária – a Unibanda. Na Unicamp, também, ministrou aulas de flauta, música de câmara e instrumentação. De 1988 a 1994, ministrou aulas de flauta e prática de conjunto na Escola Britânica de São Paulo. De 1991 a 1999, coordenou e implantou o plano de ação de atividades de lazer musical no Sesi-SP. Prof. Coelho volta a Tatuí em 1991, para introduzir a prática coletiva de instrumentos musicais de sopros e percussão na Corporação Musical Santa Cruz, cujo presidente era o Tenente PM Arlindo Vieira Pinto.
Durante toda sua vida profissional, o Maestro Coelho, teve a oportunidade de empreender projetos de ensino coletivo, nos setores: público, privado e autárquico, e nos diversos graus: primário, médio e superior, trabalhando, pois, com crianças, jovens, adultos e pessoas da terceira idade. Projetos que foram realizados no Conservatório de Tatuí, no Curso de Educação Artística da Faculdade de Filosofia de Tatuí, no Departamento de Música do Instituto de Artes da Universidade de Campinas, na Escola Britânica de São Paulo, no Serviço Social da Indústria (Sesi) do Estado de São Paulo, entre outros locais por onde alunos de seu didatismo o levam e que não chega ao seu conhecimento.
Em 2014, participou da entrevista da série “Notas e Compassos na Capital da Música” relembrando a História de Tatuí como Capital da Música sendo entrevistado por Sílvia Corradi de Azevedo Cruz, neta de Bimbo Azevedo.
Atualmente, tem recebido diversas homenagens pelos serviços prestados no campo de Educação e das Artes:
– Diploma de Honra ao Mérito pela Criação e manutenção Artística da Corporação Musical “São Jorge” e bem como pela dedicação e entusiasmo dedicado aos jovens músicos, conferido pela Câmara Municipal de Tatuí nos termos da Resolução nº 2/66 de 23 de maio de 1966;
– Diplomado pela Confederação de Teatro Amador do Estado de São Paulo, pela organização do 1º Festival Estudantil de Teatro Amador de Tatuí em 30 de novembro de 1977;
– Sócio Benemérito da Lira Musical “Pedro Salgado, da capital pelos relevantes serviços em prol do seu crescimento em 12 de setembro de 1979;
– Certificado de Reconhecimento Lions Clube de Tatuí como expressão de reconhecimento pela sua brilhante apresentação na Noite Lírica realizada em 26 de abril de 1978;
– Sócio Benemérito da “Cultura Artística de Nova Friburgo”, do Rio de Janeiro pelos relevantes serviços prestados à Sociedade, à Cultura de Nova Friburgo e do País, em 31 de dezembro de 1982;
– Título de Cidadão Emérito de Tatuí outorgado pela Câmara Municipal de Tatuí por meio do Decreto Municipal 020/98 de 24 de junho de 1998.
– Conferência “Aspectos históricos, políticos, didáticos, econômicos e socioculturais no ensino coletivo de instrumentos musicais – Um relato realizado em 01 de dezembro de 2004 na escola de Música e Artes Cênicas/Unidade federal de Goiás dentro do I ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTO MUSICAL.
– Em 27 de novembro de 2015 foi Agraciado Pelo Centro Do Professorado Paulista – CPP Com A Medalha “Sud Menucci”, em razão de seus méritos e relevantes serviços prestados à Educação, ao Ensino, ao Magistério e à Entidade
– Recebeu homenagem em 26 de fevereiro de 2018 no Teatro Procópio Ferreira do Conservatório de Tatuí onde, após 34 anos, subiu ao palco do Teatro Procópio Ferreira.
– Em 31 de agosto de 2019, no Teatro Procópio Ferreira do Conservatório de Tatuí, foi homenageado no Concerto da Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí onde o homenageado conduziu parte do Concerto da Banda.
– Em 22 de novembro de 2019 foi homenageado pelo Museu Histórico Paulo Setúbal por meuo do projeto “Ilustres Tatuianos”.
– Em 2021, participou do encontro on-line “O Teatro de Tatuí e os 45 anos do Setor de Artes Cênicas do Conservatório de Tatuí”, realizado Museu Histórico Paulo Setúbal em parceria com o Conservatório, com o intuito de homenagear grandes nomes do cenário teatral da cidade, com depoimentos e bate-papo. O evento foi transmitido ao vivo pelas redes sociais.
– Em 2024, participou da exposição “70 artistas celebrando os 70 anos do Conservatório de Tatuí” de Binho Vieira. A ação abriu as portas do Museu da Imagem e do Som – MIS Tatuí “Jornalista Renato Ferreira de Camargo”, que faz parte do Complexo Cultural de Museus e Memória de Tatuí.