O Museu Histórico “Paulo Setúbal”, da Prefeitura de Tatuí, realizará nesta sexta-feira (4/8), às 19h, a abertura da exposição “Ocupação Expedycto Lyma”, com curadoria de Felipe Abramovictz. Este é mais um evento que faz parte da programação da 81ª Semana Paulo Setúbal e do aniversário de 197 anos de Tatuí.
A exposição propõe um percurso pela trajetória do cineasta e artista circense Expedycto Lyma, nascido em Tietê e radicado em Tatuí. Trata-se de um raro documento da obra de um criador popular brasileiro que, a partir de recursos próprios e inquebrantável tenacidade, soube percorrer o Estado de São Paulo com seu circo-teatro (entre o fim da década de 1960 e os anos 1970) e com seu cinema ambulante (após 1979).
Todo o trabalho foi concebido tendo como base de pesquisa as entrevistas realizadas pelo pesquisador Felipe Abramovictz desde 2020. A iniciativa permitiu ações de recuperação do acervo pessoal do artista, o que incluiu catalogação completa, recuperação e digitalização do seu arquivo em película e em vídeo; bem como de seus manuscritos, que incluem poesias, letras de música e, especialmente, suas peças teatrais.
A pesquisa no acervo pessoal do artista, para além dos filmes, resultou em mais de 5.500 arquivos, entre páginas de manuscritos de peças teatrais, canções, poesias, roteiros, fotografias e cartazes. Somente de sua dramaturgia, foi possível localizar inúmeros roteiros e 34 textos teatrais completos escritos originalmente para serem encenados no Circo-Teatro do Alemão ao longo da década de 1970, sendo alguns deles nunca levados ao palco, os quais foram pela primeira vez transcritos, publicados e disponibilizados por meio de leituras dramáticas.
Além disso, integram a “Ocupação Expedycto Lyma” filmagens feitas por Felipe Abramovictz com o artista em sua casa, nos locais onde Expedycto montou seu cinema ambulante e seu circo-teatro, bem como em alguns cenários de seus filmes (material que já totaliza mais de 70 horas).
Ao longo deste projeto, Felipe Abramovictz desenvolveu inúmeras ações públicas, que culminaram na publicação do livro “Cinema é Sonho” (em versão impressa e e-book), realizado com recursos do ProAC Editais e escrito por ele. Também foi feita uma série de eventos em torno de sua obra, como leituras dramáticas, exibições, lives e debates com pesquisadores e parceiros. Em paralelo, uma exposição foi concebida a partir dos objetos do acervo, exibida no Centro de Memória do Circo (Galeria Olido, entre abril e novembro de 2022), na Cinemateca Brasileira (entre fevereiro e março de 2023) e na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo – ALESP (entre março e abril de 2023), em distintas configurações e formatos. O projeto contemplou ainda uma Mostra de Cinema na Cinemateca Brasileira, que contou com 11 sessões públicas, três palestras e uma intervenção musical com cururueiros de Tatuí.
“Pretendemos que a obra de Expedycto Lyma receba, final e merecidamente, uma divulgação mais ampla na cidade em que o artista passou boa parte de sua vida. A iniciativa de dar visibilidade para suas obras, anteriormente inacessíveis, pretende ser o ponto de partida de um trabalho de resgate de um autor profundamente ligado às suas raízes, cujo acervo estava se deteriorando e agora foi catalogado, digitalizado e disponibilizado ao público”, comenta Felipe.
A exposição, gratuita, fica em cartaz até o dia 30 de setembro, sempre de terça-feira a domingo, das 9h às 17h. O Museu Histórico “Paulo Setúbal” está localizado na Praça Manoel Guedes, nº 98, Centro. Mais informações podem ser obtidas pelos e-mails educativo.paulosetubal@gmail.com ou museupaulosetubal@gmail.com.
SOBRE O PESQUISADOR
Felipe Abramovictz é artista do vídeo, montador e pesquisador de cinema brasileiro. Doutorando em Multimeios pela Unicamp, mestre em Comunicação Audiovisual pela PPGCOM-UAM e graduado em Comunicação e Multimeios pela PUC-SP.
Realizador do documentário “As Imagens de Aury” e, atualmente, finaliza “Valsa de Julho”, longas-metragens em que atuou como diretor e montador. Em parceria com Lívia Gijón, realizou “Curta Pipoca”, documentário desenvolvido através de uma série de encontros com três pipoqueiros, Conde, Júlio e João, em seus pontos de trabalho, que propõe um percurso entre suas memórias e histórias para refletir a relação afetiva entre a pipoca, a cidade e a experiência do cinema.
No coletivo “A Ponte”, participa de processos multidisciplinares para explorar as fronteiras entre a dança e o vídeo, inclusive colaborando com a direção e a edição de “O dia que dancei para ela”. Também desenvolve a pesquisa “Cinema de Rua”, um projeto fotográfico e de intervenção urbana em cinemas abandonados ou que mudaram de função social; e faz parte da elaboração do projeto “Jornada do Patrimônio Perdizes”, mapeando os bens tombados do bairro.
Atualmente dedica-se à recuperação do acervo do superoitista paulista Expedycto Lyma, realizador de dez longas na bitola entre o fim dos anos 1970 e o início dos anos 1980, além de realizar um curso de especialização em restauro (Diplomatura en Preservación y Restauración Audiovisual) através da Sociedad por el Patrimonio Audiovisual.