Os 85 anos de falecimento do escritor tatuiano Paulo Setúbal, completados neste ano, será o tema principal da “80ª Semana Paulo Setúbal”, idealizada pela Prefeitura de Tatuí, por meio do Museu Histórico que leva o nome homônimo. De 1º a 7 de agosto, diversas atividades serão realizadas, como parte integrante desta Semana, em diversos equipamentos culturais do município.
A abertura oficial da Semana – que também dará início as festividades do 196º aniversário de Tatuí -, será na segunda-feira (1º de agosto), às 19h, no Museu, com uma noite de autógrafos e o lançamento do livro “Botão do Pânico”, de Ivan Camargo.
O Teatro “Procópio Ferreira”, do Conservatório de Tatuí, receberá três eventos, nos dias 3, 4 e 5 de agosto, todos transmitidos pelo canal do Museu no Youtube (https://bit.ly/2Yuui6i), sendo eles: a Cerimônia de Premiação do “20º Prêmio Literário Paulo Setúbal – Contos, Crônicas e Poesias”, de abrangência nacional, no dia 3 de agosto (quarta-feira), às 20h; a Cerimônia de Premiação do “2º Festival de Arte e Cultura de Tatuí” e o show especial do “Circuito SP”, no dia 4 de agosto (quinta-feira), às 19h; e a Cerimônia de Premiação do “20º Concurso Paulo Setúbal – Literatura e Artes Visuais”, que acontecerá no dia seguinte (5 de agosto), também às 19h, junto com o lançamento do “Tabloide 2022” e com uma homenagem a prefeita Maria José Gonzaga (in memorian).
Além disso, o Teatro “Procópio Ferreira” receberá outros dois eventos durante a Semana: também na sexta-feira (5 de agosto), entretanto às 14h, apresentação do espetáculo “Caro Kafla”, da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, do Circuito SP; e no domingo (7 de agosto), às 11h, apresentação do Grupo de Percussão do Conservatório de Tatuí.
Entre os dias 5 e 14 de agosto, a Praça da Matriz receberá mais uma edição da Feira de Artesanato “Capital da Música”, das 9h às 20h; além, é claro, do Projeto “Música na Praça”, que terá apresentação da “Sam Jazz Combo”, comandada por Sérgio “Lagartixa” de Oliveira, no sábado (6 de agosto), às 11h; no mesmo dia (6 de agosto), mas ainda em horário e local a serem definidos, acontecerá a abertura da “Copa Craque do Futuro”.
Ainda no sábado (6 de agosto), outros dois eventos agitarão a comunidade tatuiana: a apresentação da Banda Regimental do Batalhão da Polícia Militar de Sorocaba, às 16h, no Espaço “Jardim Babilônia” (Rua Martiniano Azevedo, nº 140, Centro); e o show com o grupo “Seresteiros com Ternura”, que abrilhantará a Exposição “Terra de Paulo Setúbal”, de Mingo Jacob, às 20h, na Praça da Matriz.
O Museu ainda receberá, mediante agendamentos, de 1º a 8 de agosto, a apresentação do espetáculo teatral “Confiteor”, de Fernando Goivinho, que retrata os 85 anos de falecimento do escritor Paulo Setúbal.
Por fim, duas exposições acontecerão durante a “80ª Semana Paulo Setúbal”: “Diálogos em Papel”, no Museu, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h; e “Terra de Paulo Setúbal”, no Centro Cultural de Tatuí, de 7 a 28 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 9h às 21h, e aos sábados, domingos e feriados, das 19h às 21h.
Sobre a Semana Paulo Setúbal – Idealizada por Fernando Guedes de Moraes, Celso Vieira de Camargo e Paulo Sílvio Azevedo, a primeira Semana Paulo Setúbal ocorreu em 1943 e se tornou para os tatuianos a principal Semana de Arte e Cultura de Tatuí.
Registros históricos se fundem diante da memória de Paulo Setúbal. Primeiro, é o sentimento de salvaguarda, por meio de um Museu; posteriormente o festivo, com uma Semana dedicada a Arte e a Cultura local. Assim, o Museu Histórico “Paulo Setúbal” começou a funcionar em 1956, durante a “Semana Paulo Setúbal”, na Sala dos Professores da então Escola Industrial (hoje ETEC “Salles Gomes”), onde permaneceu por algum tempo. No mesmo ano, o Museu passou a funcionar em um prédio cedido pelo Banco Sul Americano do Brasil, atualmente Banco Itaú, cujo principal acionista era filho do escritor tatuiano Paulo Setúbal.
Em 2 de janeiro de 1957, por meio da Lei nº 3.690, o Governo do Estado de São Paulo oficializou a “Semana Paulo Setúbal”, que seria realizada de 5 a 11 de agosto em Tatuí. Em 11 de agosto de 1956, a Casa de Cultura “Paulo Setúbal” inicia seu funcionamento, a título precário e sem personalidade jurídica.
No dia 11 de julho de 1958, o Decreto nº 33.092 instituiu dois prêmios, em dinheiro, com a denominação “Prêmio Literário Paulo Setúbal”. Em 1962, a Casa de Cultura passa a ser subordinada à Secretaria de Governo do Estado de São Paulo. Em 1º de janeiro de 1965, a Casa foi instalada na Rua XI de Agosto, nº 688.
Em 22 de setembro de 1966, os valores do Concurso foram elevados e estabeleceu-se, naquele ano, um regulamento para o Concurso. O Decreto nº 46.811, de 22 de setembro de 1966, institui o Museu Histórico de Tatuí, subordinado à Casa de Cultura. Em 1968, aos 18 de janeiro, o Decreto nº 49.226 transfere o equipamento cultural para a Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo.
Depois de longos anos sem a realização do Prêmio Literário Paulo Setúbal, a Prefeitura de Tatuí, por meio do gestor cultural Jorge Roberto Rizek e sua equipe, promoveu, em 2002, o resgate do Concurso, de abrangência municipal, dedicado exclusivamente para a Rede de Educação, sendo denominado Concurso Paulo Setúbal “Literatura e Artes Visuais”. No ano seguinte, 2003, foi criado o Concurso de abrangência nacional, o Prêmio Literário Paulo Setúbal “Contos, Crônicas e Poesias”. Em 2009, foi realizado um concurso para definir a marca do Concurso – que segue até o momento sendo utilizada -, e é representada pelo bordado do galardão usado pelo escritor em sua posse na Academia Brasileira de Letras e que se encontra em exposição na Sala do Patrono, no Museu Histórico “Paulo Setúbal”.
Em 7 de agosto de 2017, a prefeita Maria José Vieira de Camargo sancionou a Lei Municipal nº 5.113, que cria a “Semana Paulo Setúbal” em Tatuí. Naquele ano, a 75ª Semana Paulo Setúbal era dedicada aos 80 anos de falecimento do escritor tatuiano, que teve seu protagonismo na história da literatura brasileira; por esse motivo, o tema da Semana era “Tatuí na Obra de Paulo Setúbal”. Em 2018, o Prêmio Literário Paulo Setúbal “Contos, Crônicas e Poesias”, promovido em âmbito nacional, passou a contemplar o Prêmio “Galardão”, que premia escritores da terra natal de Paulo Setúbal.
No ano de 2019, os vencedores do 1º, 2º e 3º lugares, respectivamente, passaram a receber um troféu elaborado em latão polido (ouro), em alumínio polido (prata) e em latão patinado de castanho (bronze), todos personalizados com base de granito e plaqueta em latão com o nome dos vencedores gravados.
Devido a Pandemia da Covid-19, em 2020, o Prêmio Literário Paulo Setúbal, de abrangência nacional, que fez alusão ao Centenário do edifício sede do Museu, foi realizado de forma virtual, registrando recorde de inscrições: 2.249, sendo 1.981 on-line e 368 via Correios. Segundo levantamento da Secretaria de Cultura, o certame recebeu inscrições de 424 cidades de todos os Estados do Brasil. Naquele ano, o Concurso de Literatura e Artes Visuais não foi realizado para a Rede de Educação, devido à ausência das aulas presenciais.
Já em 2021, ano da “79ª Semana Paulo Setúbal”, o Prêmio Literário Paulo Setúbal, de abrangência nacional, bateu novo recorde de inscrições: foram computadas 2.714 inscrições, provenientes de 526 cidades de 26 Estados e do Distrito Federal. Na modalidade “Contos”, 983 inscrições foram contabilizadas; em “Crônicas”, 540 inscrições; e em “Poesias”, 1191 inscrições. O Concurso de Literatura e Artes Visuais recebeu inscrições de 22 unidades escolares, sendo: 16 municipais, 4 estaduais e 2 particulares, totalizando 124 inscrições. E a grande novidade daquele ano foi a premiação para o 1º Festival de Arte e Cultura de Tatuí, que recebeu 109 inscrições no período de 18 de junho a 19 de julho de 2021.
Sobre Paulo Setúbal – Paulo de Oliveira Leite Setúbal nasceu em Tatuí, no dia 1º de janeiro de 1892. Filho de Antônio de Oliveira Leite Setúbal e Tereza Nobre Setúbal, iniciou os estudos na escola particular de Chico Pereira, onde, depois, também frequentou o Grupo Escolar. Fez o Ginasial no Ginásio Nossa Senhora do Carmo, em São Paulo. Formou-se, em 1914, como bacharel em Direito, em São Paulo. Na época, seus poemas já haviam sido publicados na primeira página do jornal “A Tarde”.
Em sua juventude, com saúde debilitada, procurou repouso em Tatuí e, posteriormente, em Campos do Jordão. A pandemia da gripe espanhola, que atingiu o mundo entre 1918 e 1919, acometeu de forma séria a saúde do escritor tatuiano; o organismo, porém, reagiu e ele pôde entregar-se às letras, seguindo sua vocação de poeta e historiador. Escritor desde os primeiros tempos de estudante, colaborou em quase todos os jornais e revistas literárias da época, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Escrevia notadamente para a revista paulistana “A Cigarra”. Entre os jornais que contaram com sua colaboração mais assídua, figuram o “Diário Popular”, o “Estado de São Paulo” e o “Jornal do Comércio”.
A jornada literária do escritor Paulo Setúbal ocorre em 1920, com a publicação de seu livro de poesia “Alma Cabocla”, composto de vários poemas com linguagem simples de sua terra natal, cuja edição, de 3 mil exemplares, esgotou-se em um mês.
Setúbal dividiu sua obra em 4 capítulos: “Minha Terra” (10 poesias); “Moita de Rosas” (12 poesias); “Flocos de Espuma” (13 poesias); e “Sertanejas” (5 poesias). No capítulo “Minha Terra” a primeira poesia, curiosamente chamada “De Volta…”, é possível sentir na alma a emoção de quem volta à sua terra e à sua gente, tamanha é a perfeição da descrição. A comunhão com o campo é tão intensa que pode ser percebida, por exemplo, no seguinte verso: “Que alegria vegetal!”. Já no capítulo “Moita de Rosas”, a poesia “Os Quinze Anos – Essa fase da vida”, é cantada em verso por Paulo Setúbal. Segundo ele, “aos quinze anos, tudo nos sorria”, e por aí vão as lembranças e as aventuras de um beijo roubado. A jovialidade feminina, que, nessa idade, tem um pouco de menina e um pouco de moça, está retratada na poesia intitulada “Quinze Anos”. No capítulo “Flocos de Espuma”, a poesia “Sinhá Anna” mostra uma velhinha muito querida por todos; o poema fala sobre a saudade que sente dela e de algumas lembranças, como do lugar em que ela vivia e que sempre lhe trazia broinhas fresquinhas. No capítulo “Sertanejas”, “Nelas” a faceta original do poeta é marcante, a vivência interiorana é descrita nos versos com muita intensidade.
“Alma Cabocla”, de Setúbal, é considerada fantástica, suas poesias são bastante descritivas, trazem uma linguagem fácil e fazem a imaginação do leitor viajar por sua terra natal, como se realmente estivesse presente. O interessante em suas poesias é que ele sempre romantiza a vida no campo e apresenta a vida urbana como um lugar de preocupações e de caos, levando o leitor a impressão de que se ele pudesse, voltaria de vez para aquelas terras.
Entre 1925 e 1935, publicou vários romances históricos, entre eles: “A Marquesa de Santos”, “O Príncipe de Nassau” e “A Bandeira de Fernão Dias”. Trabalhou como colaborador do jornal “O Estado de S. Paulo”. Foi deputado estadual, renunciando ao mandato por ter agravada sua tuberculose. Publicou, nos anos seguintes, livros de contos, crônicas e memórias. Poeta vinculado à estética parnasiana, Paulo Setúbal tematizou em seus versos a vida dos camponeses, dos caboclos do interior de São Paulo. Pela escolha do tema, na época foi chamado de “poeta regional”.
Em 22 de junho de 1922, casou-se com Francisca de Souza Aranha, filha do senador Olavo Egydio Aranha, com quem teve três filhos: Olavo Egydio (ex-prefeito de São Paulo), Maria Vicentina e Terezinha. O casamento aumentou-lhe a segurança e a prosperidade. Sua esposa foi, além de companheira em um lar feliz, a inspiradora, a secretária, a revisora de suas obras, de quem passou a ser, sempre, a primeira leitora, a crítica e a confidente.
Setúbal foi, em meados dos anos 1920 e nas décadas de 1930 e 1940, um dos escritores mais populares do Brasil, especialmente por seus romances históricos – gênero quase abandonado atualmente. Seus livros, cujas capas foram assinadas por J.Wast Rodrigues, um dos maiores artistas gráficos, prenunciavam os modernos best sellers e, alguns, foram traduzidos para outras línguas. Setúbal escreveu, além do livro de poesias “Alma Cabocla”, o livro de memórias “Confiteor”.
O escritor foi eleito no dia 6 de dezembro de 1934 e tomou posse em 27 de julho de 1935, sendo recebido pelo acadêmico Alcântara Machado, para ocupar a cadeira 31 da Academia Paulista de Letras, antecedida por João Ribeiro.
Paulo Setúbal faleceu em São Paulo, no dia 4 de maio de 1937. Neste mesmo ano, segundo o livro “Memórias de Tatuí e do Lar São Vicente de Paulo”, de Dom José Melhado Campos – que descreve o mês de maio de 1937 -, em uma aula de Português no então Ginásio Estadual de Tatuí, o professor e poeta José Lannes faz um comentário sobre a recente morte de Paulo Setúbal e pede um minuto de silêncio; todos emudecem, comovidos. E, na cabeça do jovem Nilzo Vanni passa-se uma ideia temerária: reunir em um Museu todos os pertences do poeta desaparecido.
Com esse sentimento enlutado de Nilzo Vanni, surge a vocação principal do Museu Histórico “Paulo Setúbal”: salvaguardar a história de Tatuí e dos tatuianos. Em consequência de sua vocação, o escritor tatuiano Paulo de Oliveira Leite Setúbal, imortalizado pela Academia Brasileira de Letras, tornou-se o patrono do Museu Histórico, cujo acervo ocupa o edifício centenário da Praça Manoel Guedes, nº 98. Sendo Paulo Setúbal, ilustre filho da terra, o Museu, cumprindo sua vocação, realiza a salvaguarda de sua vida e de suas obras, promovendo, anualmente, a Semana que tem o seu nome.