Nesta sexta-feira (13/08), o Museu Histórico “Paulo Setúbal”, da Prefeitura de Tatuí, realizará o ato em memória “A Caridade de Chico Pereira”, em homenagem ao dia de Chico Pereira. Na ocasião, também será feita uma homenagem a prefeita Maria José Gonzaga, falecida no último domingo (08/08), por sua vocação filantrópica. O evento, que terá início às 19h, será transmitido ao vivo pelo canal do Museu no Youtube (https://bit.ly/3lXefqZ).
Participarão do ato o secretário de Cultura e Turismo, Cassiano Sinisgalli; o secretário de Assistência e Desenvolvimento Social, Alessandro Bosso; e a professora Rosa Maria de Souza, representando o Projeto Envelhecer com Qualidade de Vida, do Fundo Social de Solidariedade de Tatuí (FUSSTAT). Além disso, o evento terá um depoimento da ex-presidente do FUSSTAT, Sônia Maria Riberio da Silva, que é um dos grandes nomes do voluntariado de Tatuí; e a apresentação musical da Camerata de Violões do Conservatório local.
No evento também será exibido um vídeo – gravado em 12 de agosto de 2018 por Pedro Henrique de Campos, e que é parte do acervo do Museu -, que registra o ato em memória a Chico Pereira, ilustre tatuiano e um dos fundadores da Sociedade São Vicente de Paulo, de Tatuí. A gravação foi realizada em frente ao monumento de Chico Pereira e relembra a importância deste professor, que, no Asilo, imediatamente conquistou os idosos com sua voz baixa de quem reza e com seu jeito conciliador, porque transmitia fé, coragem e serenidade, sem se apressar ou desviar do rumo traçado. No vídeo, o ator e professor Pedro Couto, interpretou Chico Pereira, fazendo a leitura de parte do capítulo que Paulo Setúbal lhe dedicou.
Chico Pereira – Francisco Evangelista Pereira de Almeida, o Chico Pereira, nasceu em Tatuí no dia 27 de dezembro de 1857. Filho de Antônio Pereira de Almeida e de Maria Francisca de Almeida. Fez os estudos primários em Tatuí e, a seguir, estudou no Convento do Carmo, em Itu, onde teve a instrução normal em conjunto com ensino religioso. Quando deixou o colégio, após perder seu pai, foi morar com sua irmã Aninha, em um sítio próximo a cidade de Pereiras, onde se dedicou a lavoura.
Com apenas 14 anos de idade, já trabalhava no comércio. Por volta de 1880 era professor particular de meninos. Verdadeiro catequista, pela bondade inata, em breve reuniu ao redor de si todas as crianças e adultos do bairro, aos quais ensinava o catecismo. Desde criança Chico Pereira praticava a caridade, visitando os pobres e os enfermos e oferecendo assistência. Confortava-os espiritualmente, ao mesmo tempo em que os socorria pecuniariamente, à medida de suas necessidades. Na quaresma costumava fazer ao redor de sua casa as estações do caminho do Calvário. Nessas ocasiões, convidava todos os empregados e família para praticarem juntos o piedoso exercício da Via-Sacra.
Dedicou-se também a profissão de tanoeiro. Foi escrivão da coletoria e escrivão de vara. Estudou e foi a São Paulo prestar exame, recebendo carta de professor de Palácio. Durante 10 anos foi professor do primeiro grupo escolar de Tatuí, o “João Florêncio”. Lecionou por cinco anos no segundo Grupo Escolar de Tatuí. Encerrou sua vida no magistério, no Grupo Escolar do Bairro Santa Cruz, onde aposentou-se em 20 de outubro de 1921.
Chico Pereira foi uma personalidade singular que dedicou toda sua existência à prática do bem, da caridade e da religião. Homem de presença discreta e firme. Homem de fé, que sensibilizou a todos que o conheceram.
Foi um dos fundadores da Sociedade São Vicente de Paulo, de Tatuí, cujo asilo se recolheu em 18 de abril 1938. Neste local, imediatamente conquistou os velhinhos, com sua voz baixa de quem reza. Com seu jeito conciliador, de quem evita o dissabor. Era líder porque transmitia a fé, a coragem, a serenidade de quem não se apressa e que não se desvia do rumo traçado.
Faleceu em 12 de agosto de 1944. Sua vida e sua história foram consagradas nas páginas do livro “Confiteor”, de Paulo Setúbal, seu aluno. Essa obra foi o último trabalho do autor. Em “Confiteor”, Paulo Setúbal, em um trecho, descreve assim o mestre: “Ele é um simples, um humilde, um apagado professor de escola primária. Foi meu primeiro professor. Seu Chico morava na mesma rua em que eu morava. A casa dele, lembro-me bem, era uma casinhola baixa, pintada de azul, com uma porta e duas janelas, modestíssima. Tinha dentro uma desguarnecida varanda telhavã e uma das pobres alcovas atijoladas e tristes. Nessa casa, todas as manhãs, à hora do almoço, entravam uns homens maltrapilhos, pé-no-chão, que viviam pela cidade ao deus-dará. Todas as tardes também, à hora do jantar, outros homens, igualmente maltrapilhos, igualmente pé-no-chão, entravam silenciosos por aquela casinhola adentro. Iam até a cozinha. Aí havia uma comprida mesa de peroba, enegrecida e nua, onde se enfileiravam toscos pratos de folha, seu Chico dava de comer aos bandos esmolambados… Os enterros que viam da roça, à falta de lugar apropriado, passavam pela sua casa. Lá numa pequena sala, removidos ligeiramente os moveis, o caixão passava a noite. E junto Chico Pereira – com o morto, pessoas que entravam e saiam, velas que eram acesas e se consumiam. Seu Chico sacrificava mais uma noite de sono, unicamente para fazer um ato de caridade”. Enfim, este foi Chico Pereira, um homem simples, porém único em sua grandeza espiritual.
Em março de 1970, foi inaugurado em Tatuí o Grupo Escola Ginásio “Chico Pereira”, em sua homenagem. A biografia do professor foi retirada do livro “Ilustres Cidadãos – Volume 1”, de Renato Ferreira de Camargo e Christian Pereira de Camargo.